poema

deixe-me sair por essa janela  
redesenhada na calçada

deixe-me por aí
(livre) 

 na eternidade desse sôfrego vento

-desses que cortam horizontes
por detrás das montanhas?

Campos, Ricardo. Série pequenos poemas [Surtos poéticos]. Poesia-Literatura brasileira-Dezembro de 2012.

velho sofá

-entre: a porta está aberta;
a porta da sala de estar
à vontade com as pernas
jogadas em cima do velho sofá.

 

 

 

 

 

Campos, Ricardo. Série pequenos poemas [Surtos poéticos]. Poesia-Literatura brasileira-Dezembro de 2012.

 

Ofício

poeta errante
nessa terra fumegante
(sombraverbos)
queima-fogo
terra do fogo
-o suor do corpo
caindo quente sobre
a terra castigada.

 

 

Campos, ricardo-poesia-literatura brasileira-dezembro-2012

a palavra, as cigarras.

(...)

“à luz presente
sou apenas um bicho
        transparente”

Ferreira Gullar

-sem a palavra,

a metade do que sinto

não existe.

-as cigarras querem

dizer algo

aos ouvidos da alma?

Campos, Ricardo-Literatura Brasileira-Pequenos Poemas [surtos poético] Novembro de 2012.

poema

 ***

de olhar a solidão:

assim tão longe.

quase que deu tempo

de sentir saudades.

...as caravelas partiram

do tejo e trouxeram

saudades.

Campos. Ricardo-Literatura-Brasileira-Poesia-Pequenos poemas [surtos poéticos] Novembro de 2012.

cigarras & auroras

 

o c é u c h o r a

 c i g a r r a s e a u r o r a s

 

 

 

 Campos, Ricardo- Poesia-Literatura Brasileira-2012. série- pequenos poemas auroras & cigarras- [surtos poéticos]

apanhador de estrelas

apanhador de
estrelas,
luas e cometas:
-baby!
na negra noite;
poesia exalando!








Campos, Ricardo- Poesia-Literatura Brasileira-2012. série- pequenos poemas- [surtos poéticos]

página em branco

página em branco

múltiplos compassos
do vazio
silêncio de palavras

Campos, Ricardo- Poesia-Literatura Brasileira-2012. série- pequenos poemas- [surtos poéticos]

entre vós:poetas

entre vós: poetas

repousa neologismos

decifráveis à medida do verso

verbos quentes

madrugadas gélidas

noites solenes...

entre vós: poetas

narrativas de além horizontes

finita aurora

dias acinzentados

céu de agosto...

Ricardo Campos

fundo da agulha

a lua que olho
passa no fundo
da agulha:
-costuro o céu
de estrelas...

 

 

Campos, Ricardo- Poesia-Literatura Brasileira-2012. série- pequenos poemas- [surtos poéticos]-2012

inverno

“Tudo que não invento é falso”

Manoel de Barros

cheiro de livro velho:

os silêncios navegam

entre pedras e as

sombras de inverno.

cores cinzas nos

desvãos do mundo.

-é inverno, meu deus!

é inverno!

 

Ricardo Campos

Dama Noturna

-A menina flor da noite?
-Ah, talvez seja.
(Um pouco pensativo com a mão sobre a face)
-Nos jardins mais insones e serenados.
-Eis, a dama da noite!
-Quero vê-la dançar ao relento.
Na lua quarto - crescente...

 

Ricardo Campos

haiku

beija-flor no jardim.
.. voo frenético:sedução
o beijo de vida





Ricardo Campos
 02/06/2012

fragmentado

ermo de nada:
pedras que aprisionam gente
flor de aurora
rosa dos ventos...
engolimos cidades num fôlego só:
na incompletude de nossa terrível pressa

 
 
 



Ricardo Campos
01/06/2012

faz sentido?

a zebra anda solta, galopante, errante: na página amarela.
a métrica anda de bronca com o verso solto,branco,defeituoso?
ando por aí, acolá, à procura de uns porquês, faz sentido?

Ricardo Campos

haiku

beleza do canto
as aves outonais de maio

sabiá no muro

Ricardo Campos

voo

olhos de pássaros

           e nuvens

desafiam o sol - observo

voo entre árvores

e galhos retorcidos

flores que outonam

“Folhas secas me outonam”

Manoel de Barros

este silêncio quer dizer algo:
quer abrir caminho por entre as pedras.
onírica poética das folhas secas de outono;
flores que outonam , chuvas esporádicas:
amores de estação.

haiku

amores tangíveis
os possíveis à luz do sol
nas folhas outonais

haiku

o sol de outono

raios entre nuvens esparsas

nas manhãs possíveis

haiku

o vento derruba

flores roxas na calçada

a próxima estação

Ricardo Campos

concreto

a sol a do pé

o sol sem sol a

a sol a do sol pé

pé sol sol a

entre coisas banais

entre

tanto

entre

coisas

banais

poema

um bom poema se escreve com tempo.
(passado, presente, futuro)
escreve-se no desapego, sem medo.
na hora incerta, no desassossego.
escreve-se assim, no improviso.
numa folha de papel ...
( amarelecida...)
quase esquecida , timbrada pelo vento...

Ricardo Campos

Tanka

no final da tarde
a chuva de veranico
adeus do domingo

as folhas caídas no solo
tempestade de janeiro




Ricardo Campos

autofágico

trágico roedor de unhas

Ricardo Campos

pé de romã

...o pé de romã está ali,

bem de frente da varanda
daquela velha casa...
sedento de chuva e sol.

à espera de uma 
mão hábil e dócil
que possa pegar o teu fruto
e arrancá-lo sem dor.

o rito sagrado da colheita
apanhando o fruto maduro....

Ricardo Campos